Lua de Mel de Edward e Bela -1°parte

Primeira noite, parte 1



Ele me ouviu, apesar do barulho do motor, e deu um grande sorriso que resplandeceu a luz da lua.
“Essa é a Ilha Esme.”
O barco parou dramaticamente, ficando na posição precisa no pequeno cais construído com placas de madeira; embranquecidas pela brancura da lua. O motor foi desligado, e o silêncio que se seguiu foi profundo. Não havia nada além das ondas, batendo levemente no barco, e o ruído da brisa nas palmeiras. O vento era quente, úmido, e perfumado, como o vapor que ficava depois de um banho.
“Ilha Esme?” Minha voz era baixa, mas pareceu alta demais quando enfrentou a noite quieta.
“Um presente de Carlisle – Esme se ofereceu para nos emprestar.”
Um presente? Quem dá ilhas de presente? Eu fiz uma careta. Eu não tinha me dado conta que a extrema generosidade de Edward era um comportamento que ele havia aprendido.
Ele colocou as malas no cais e se virou de volta, sorrindo com seu sorriso perfeito enquanto me alcançava. Ao invés de me pegar pela mão, ele me puxou direto pros seus braços.
“Não é pra você esperar até chegar à porta?” Eu perguntei, sem ar, enquanto ele saltava facilmente pra fora do barco.
Ele sorriu. “Se eu não fizer tudo não tem graça.”
Segurando as alças das duas enormes malas com uma mão só e me segurando com o outro braço, ele me carregou pelo cais e por uma trilha de areia clarinha através da vegetação escura.
Por um breve momento tudo ficou como breu na mata que mais parecia uma selva, e ai eu consegui avistar uma luz cálida à frente. Foi mais ou menos nesse ponto que eu me dei conta que a luz era uma casa – os dois quadrados perfeitos e brilhantes eram janelas largas que margeavam a porta da frente; aquele medo de palco novamente, mais poderoso que antes, pior do que quando eu pensei que estávamos indo para um hotel.
Meu coração bateu alto demais nas minhas costelas, e a minha respiração pareceu ficar presa na minha garganta. Eu senti os olhos de Edward no meu rosto, mas me recusei a encontrar o olhar dele. Eu olhei diretamente para frente, sem enxergar nada.
Ele não me perguntou o que eu estava pensando, e isso não era comum pra ele. Eu acho que isso significa que ele estava tão nervoso quanto eu estava.
Ele pôs as malas no chão para abrir as portas; elas estavam destrancadas.
Edward olhou para mim, esperando que eu encontrasse o olhar dele antes de passar pela porta.
Ele me carregou pela casa, nós dois muito quietos, acendendo as luzes enquanto passava.
Minha vaga impressão da casa foi que ela era grande demais pra uma ilha tão pequena, e estranhamente familiar. Eu me acostumei ao esquema de cores pálidas que os Cullen preferiam; eu me sentia em casa. No entanto, eu não me foquei em coisas específicas. O violento pulso batendo nos meus ouvidos fazia tudo ficar distorcido.
Então Edward parou e acendeu a última luz.
O quarto era grande e branco, e a parede mais distante era praticamente feita de vidro; uma decoração padrão para os meus vampiros. Do lado de fora, a lua estava brilhando na areia branca e, apenas a alguns metros de distância da casa, as ondas brilhantes. Mas eu mal notei essa parte. Eu estava mais concentrada na cama absolutamente enorme no centro do quarto, com leves mosquiteiros pendurados.
Edward me pôs no chão.
“Eu... Eu vou pegar a bagagem.”
O quarto era quente demais, mais pesado do que a noite tropical lá fora. Uma trilha de suor empapou a minha nuca. Eu caminhei para frente lentamente até que eu consegui erguer a mão e tocar o mosquiteiro opaco. Por algum motivo, eu precisava ter certeza de que tudo era real.
Eu não ouvi Edward voltar. De repente, seus dedos gelados estavam acariciando a minha nuca, enxugando a transpiração.
“É um pouco quente aqui” ele disse como quem pedia desculpas. “Eu achei... Que seria o melhor.”
“Absolutamente” eu murmurei por baixo do meu fôlego, e ele gargalhou. Era um som nervoso, raro para Edward.
“Eu tentei pensar em tudo que pudesse tornar isso mais... fácil” ele admitiu.
Eu engoli fazendo barulho, ainda sem olhar na direção dele. Será que já existiu uma lua de mel assim antes?
E sabia a resposta pra isso. Não. Não existiu.
“Eu estava me perguntando” Edward disse lentamente. “Se... primeiro... talvez você goste de um mergulho à meia noite comigo?” Ele respirou profundamente, e a voz dele estava mais tranquila quando ele falou novamente. “A água estará bem quentinha. Esse é o tipo de praia que você aprovaria.”
“Parece bom.” Minha voz se quebrou.
“Eu tenho certeza que você gostaria de um ou dois minutos humanos... Foi uma longa viagem.”
Eu balancei a cabeça rigidamente. Eu mal me sentia humana; talvez alguns minutos a sós me ajudassem.
Os lábios dele alisaram a minha garganta, logo abaixo do meu ouvido. Ele riu uma vez e sua respiração fria fez cócegas na minha pele esquentada. “Não demore muito, Sra. Cullen.”
Eu pulei um pouco pelo som do meu novo nome.
Os lábios dele desceram no meu pescoço até o topo do meu ombro. “Eu vou esperar por você na água.”
Ele passou por mim indo até as portas francesas que se abria dando diretamente para a noite enluarada. O ar pesado, salgado, entrou no quarto atrás dele.
A minha pele ficou em chamas? Eu precisei olhar pra baixo para checar. Não, eu não estava queimando. Pelo menos, não visivelmente.
Eu me lembrei de respirar, e aí cambaleei em direção à mala gigante que Edward tinha deixado aberta sobre uma penteadeira baixa. Ela devia ser minha, pois a minha familiar bolsa de utensílios de higiene estava em cima dela, e havia muitas coisas cor de rosa por ali, mas eu não reconheci nada que pudesse ser uma roupa. Enquanto eu escavava as pilhas cuidadosamente arrumadas – procurando alguma coisa familiar e confortável, um par de calças de moletom, talvez – eu me dei conta que havia uma quantidade absurda de laços e cetim sedoso em minhas mãos. Lingerie. Lingerie com cara de lingerie, com etiquetas francesas.
Eu não sabia como e quando, mas algum dia, Alice ia pagar por isso.
Desistindo, eu fui para o banheiro e dei uma espiada pelas longas janelas que se abriam para a mesma praia, que se abria para as portas francesas. Eu não conseguia vê-lo; eu imaginei que ele estivesse lá na água, sem se incomodar em respirar. No céu lá em cima, a lua estava minguante, quase cheia, e a areia estava numa cor branca e brilhante sob seu brilho. Um pequeno movimento chamou minha atenção. Segura com uma espécie de laço em uma das palmeiras que margeavam a praia, o resto das roupas dele estavam balançando com a brisa suave.
Uma onda de calor passou pela minha pele novamente.
Eu respirei fundo, duas vezes e fui para o espelho acima da longa fila de armários. Eu estava exatamente com a cara de quem passou o dia inteiro dormindo num avião. Eu encontrei minha escova e a passei com força nos bolos de cabelo na base da minha nuca até que eles ficaram macios e a escova ficou cheia de fios. Eu escovei meus dentes meticulosamente, duas vezes. Então eu lavei meu rosto e passei água na minha nuca, que estava meio febril. A sensação foi tão boa que eu também lavei meus braços, e finalmente eu resolvi desistir e ir pro chuveiro. Eu sabia que era ridículo tomar banho antes de ir nadar, mas eu precisava me acalmar, e água quente era uma forma confiável de fazer isso.
Além do mais, raspar as minhas pernas também parecia uma boa idéia.
Quando eu acabei, eu agarrei uma grande toalha na pia e a enrolei embaixo dos meus braços.
Ai eu dei de cara com um dilema que eu não havia considerado. O que eu ia usar? Não uma roupa de banho, lógico. Mas também parecia bobagem colocar as minhas roupas de novo. Eu nem quis saber das coisas que Alice tinha colocado na mala pra mim.
Minha respiração começou a acelerar de novo e minhas mãos tremeram; os efeitos calmantes de tomar banho já eram.
Eu comecei a me sentir meio tonta, aparentemente um ataque de pânico com força máxima se aproximava. Eu sentei no chão frio de azulejo com a minha toalha grande e coloquei a cabeça entre os joelhos. Eu rezei pra que ele não decidisse vir me procurar antes que eu conseguisse me refazer. Eu podia imaginar o que ele ia pensar se me visse aos pedaços desse jeito. Não seria difícil ele se convencer que nós estávamos cometendo um erro.
Eu não estava pirando por achar que estávamos cometendo um erro. Nem um pouco. Eu estava pirando porque eu não tinha idéia de como fazer isso, e eu estava com medo de sair desse quarto e enfrentar o desconhecido. Especialmente usando lingerie francesa. Eu sabia que não estava pronta pra isso ainda.
Isso era exatamente como ter que entrar num teatro cheio de gente sem ter a mínima noção de quais eram as minhas falas.
Como as pessoas faziam isso – engolir seus medos e confiar tão cegamente em alguém com todas as imperfeições e medos que ela tem, com tão menos do que o absoluto cometimento que Edward tinha me dado? Se não fosse Edward lá fora, se eu não soubesse com todas as células do meu corpo que eu o amo, incondicionalmente e irrevogavelmente, e honestamente, irracionalmente, eu nunca seria capaz de levantar desse chão.
Mas era Edward lá fora, então eu sussurrei as palavras – Não seja covarde – bem baixinho e cambaleei pra ficar de pé. Eu prendi a toalha mais alto embaixo dos meus braços e marchei com determinação pra fora do banheiro. Passei pela mala cheia de lacinhos e pela enorme cama sem olhar para nenhum dos dois. Abri a porta de vidro e fui para a areia fina como talco.
Tudo estava preto e branco, tudo ficou sem cor por causa da lua. Eu caminhei lentamente pelo pó quentinho, parando ao lado da árvore curvada onde ele tinha deixado suas roupas. Eu pus minha mão no tronco ríspido e chequei minha respiração para ver se ela estava uniforme.
Ou uniforme o suficiente.
Eu olhei através do mato baixo, no negro da escuridão, procurando por ele.
Não foi difícil encontrá-lo. Ele estava de pé, de costas pra mim, mergulhado até a cintura na água da meia noite, olhando para a lua oval.
A luz pálida da lua deixava sua pele numa perfeita cor branca, como a areia, como a própria lua, e deixava seu cabelo negro como o oceano. Ele estava imóvel, as palmas de suas mãos descansando na superfície da água; as ondas baixas se quebravam ao redor dele, como se ele fosse uma pedra. Eu olhei para as suaves linhas das costas dele, de seus ombros, seu pescoço, seu formato indefectível...
O fogo já não deixava mais rastros na minha pele, agora ele queimava lenta e profundamente; ele sumiu com a minha estranheza, minha tímida incerteza. Eu deixei a toalha cair sem hesitar deixando-a na árvore com as roupas dele, e caminhei para a luz branca; isso também me fez ficar pálida como a areia branca.
Eu não conseguia ouviu os sons dos meus passos enquanto caminhava até a beira da água, mas eu imaginei que ele podia. Edward não se virou. Eu deixei as ondas gentis quebrarem aos meus pés, e descobri que ele estava certo sobre a temperatura; ela estava bem quentinha, como água de chuveiro. Eu entrei, caminhando cuidadosamente pelo chão invisível do oceano, mas a minha preocupação era desnecessária; a areia continuava perfeitamente suave, indo gentilmente na direção de Edward. Eu dei braçadas pela leve correnteza até estar ao lado dele, e então repousei minha mão gentilmente sobre a mão gelada dele que pairava sobre a água.
“Lindo” eu disse, olhando para a lua também.
“É bonita” ele disse, sem se impressionar. Ele virou lentamente pra me olhar; pequenas ondas acompanharam os movimentos dele e se quebravam na minha pele. Ele virou as mãos para cima para que pudéssemos uni-las embaixo da água. Estava quente suficiente para que a pele fria dele não causasse arrepios na minha.
“Mas eu não usaria a palavra linda” ele continuou. “Não com você bem aqui para fazer a comparação.”
Eu dei um meio sorriso, então ergui a minha mão livre, agora ela não tremia, e a coloquei sobre o coração dele. Branco sobre branco; nós combinamos, pra variar. Ele estremeceu só um pouquinho com o meu toque. A respiração dele agora estava mais ríspida. “Eu prometi que ia tentar” ele sussurrou, ficando tenso de repente. “Se... Se eu fizer algo errado, se eu te machucar, você precisa me dizer imediatamente.”
Eu fiz um aceno solene com a cabeça, mantendo meus olhos grudados nos dele. Eu dei um passo à frente nas ondas e deitei minha cabeça no peito dele.
“Não tenha medo” eu murmurei. “Nós fomos feitos pra ficar juntos.”
De repente eu fiquei abismada pela veracidade das minhas próprias palavras. Esse momento era tão perfeito, tão correto, que não havia nenhuma dúvida disso.
Os braços dele me cercaram, me segurando contra ele, éramos como inverno e verão. Parecia que todas as terminações nervosas do meu corpo eram fios elétricos.
“Para sempre” ele concordou, e então nos puxou gentilmente mais pra dentro na água.
Nada do que eu tinha imaginado em tantas noites insones poderia ter me preparado para esse momento. Apesar de evitar pensar sobre isso, meu próprio corpo rebelde tinha decidido ir até o fim o mais rápido possível. Eu não gostava de pensar, me deixava embaraçada, mas o desejo que eu sentia por Edward se tornava cada dia mais latejante, mais impossível de ignorar. As noites insones se tornavam mais freqüentes, particularmente quando as coisas entre nós ficavam mais intensas, e ele inevitavelmente parava, e se afastava. Nessas horas meu corpo reclamava, pulsando, doendo, ardendo por uma satisfação que me era desconhecida, sobre a qual eu só lera em livros de biologia e romances. Mas aquela necessidade era real. E tão intensa, que, se Edward pudesse ler meus pensamentos – e felizmente ele não conseguia – talvez então ele conseguisse entender minha pressa, minha angústia.
E mesmo essa ansiedade, expectativa, necessidade... Nada disso tinha me preparado para a fome que se apossou de mim no momento em que nossos corpos se tocaram, livres das roupas pela primeira vez, no calor da água morna. Todas as células do meu corpo estavam intensamente conscientes da presença dele, do seu cheiro inebriante, da beleza perfeita e infinita do corpo molhado e iluminado pelo luar. Tudo nele me atraía, para cada vez mais perto, como se meu corpo quisesse se fundir ao dele, atingindo assim sua própria perfeição. Eu só podia existir sendo parte dele. Eu pertencia a ele. E eu tinha fome. Tinha pressa. Mas ele não. Nesses momentos a pressa não existia para Edward Cullen. O tempo parecia se estender, se alongar. Nunca imaginei que em um segundo cabiam tantas coisas, tanta realidade, tanto dele. Em câmera lenta, Edward me levou junto a ele até um ponto mais profundo da praia, e meu coração disparou enlouquecido. Ele não iria desistir, como eu temia. Senti um pouco de culpa, a culpa familiar, sabendo que ele só estava fazendo isso porque eu insistira tanto, sabendo que ele tinha medo das conseqüências, muito mais do que eu, porque ele se responsabilizaria por qualquer coisa que acontecesse. Mas esses pensamentos desapareceram assim que ele me estabilizou em pé na areia, colou novamente seu corpo ao meu e buscou meu pescoço com os lábios frios.
“Devagar agora, Bella,” eu ouvi sua voz rouca e entrecortada. “Eu quero ver, conhecer você. Sonhei muitas vezes com isso.” As palavras foram acompanhadas pelo deslizar de suas mãos pelas minhas costas enquanto os lábios se colavam aos meus novamente. Fogo e gelo se mesclavam em mim; era impossível não perceber como sua pele, lábios e língua eram frios ao toque. A sensação de que eles queimavam sobre mim era de um prazer inigualável, porém o rastro que deixavam ao mudar de lugar não era de frio ou de dor, e sim de um calor impossível. Arrepios surgiam nos pontos em que ele me tocava, e se alastravam pelo meu corpo, me causando arrepios e tremores. Enquanto me beijava lentamente, saboreando cada toque, com paciência, as pontas de seus dedos exploravam minhas costas da base da nuca até a curva dos quadris. A língua percorria meus lábios sem pressa, entreabrindo-os e tocando minha própria língua, fazendo movimentos de reconhecimento, de invasão, o que espalhou um calor já familiar no centro de meu corpo, no estômago, e entre as pernas. Ele arriscou uma leve mordida em minha língua. Me senti desfalecer por alguns segundos, respirei mais profundamente, buscando o ar que me faltava. Ele pareceu perceber, e parou por um momento, pousando as palmas da mão em meus quadris, possessivamente. Ouvi sua risada rouca e baixa quando gemi involuntariamente ao sentir que ele parava.
“Não se preocupe, amor,” ele disse, buscando meus olhos, o meio-sorriso torto que eu amava tanto brincando em seus lábios. “Nós temos a noite toda”. E dizendo isso, deslizou uma mão pela lateral do meu quadril até a minha perna, novamente usando apenas a ponta do dedo. Fiquei novamente ofegante. Não sabia se conseguiria agüentar tanta tensão, com certeza teria um ataque cardíaco. Não sabia se conseguiria resistir a tanto prazer.
Dessa vez eu que me afastei um pouco, me descolando dele. Precisava de ar. O meio-sorriso continuava em seu rosto perfeito. Resolvi me vingar da lenta tortura, e um sorriso malicioso surgiu em meus lábios.
“Edward”, minha voz saiu entrecortada, me fazendo corar. “Pode se virar um pouco, por favor?”.
Ele ergueu uma sobrancelha com expressão curiosa, mas não questionou. Virou-se lentamente de costas para mim, deixando à mostra o dorso perfeito, forte, esculpido em mármore. O mar escuro brilhava ao redor dele, que se parecia ainda mais com um deus. Água escorria do cabelo e da pele molhada criando riscos prateados na pele perfeita. Minha respiração aos poucos foi voltando ao normal, e eu me aproximei dele com uma calma que não sentia, e me encostei contra ele, colando meu peito em suas costas. O choque do frio de sua pele contra a minha, fervente, me fez estremecer violentamente, e o coração voltar a disparar. Já estava começando a lamentar aquele movimento quando percebi que ele também estava reagindo com certa violência, a respiração acelerada, pequenos tremores na pele, como calafrios. Senti meus mamilos se enrijecerem contra a pele fria, e formigarem, ansiando pelo toque de suas mãos. Mais uma vez agradeci por ele não ser capaz de ler minha mente, e encostei meus lábios em seu pescoço, enquanto percorria seu peito com minhas mãos espalmadas, de cima a baixo, me aproximando do ventre liso, fazendo o inverso do que ele fizera comigo. A pele estava salgada, úmida, e fui explorando a nuca com a língua, fazendo traços em direção à orelha, e senti o corpo dele se enrijecer sob minhas mãos, enquanto eu passeava com elas explorando cada pedaço pelo qual elas ansiavam. Percorri a parte interna do braço, os ombros perfeitos, depois voltei até a ponta dos dedos, que se entrelaçaram aos meus enquanto eu continuava o caminho com os lábios. Decidi ousar um pouco, mordendo a ponta da orelha com cuidado, apesar de saber que aquilo jamais o machucaria. O efeito, no entanto, foi inesperado. Ele apertou minhas mãos com força, me fazendo gemer assustada em protesto. Ele imediatamente me soltou e ficou estático, parado. Senti a tensão mudar em seu corpo, para algo diferente.
“Desculpe, Bella. Machuquei você?” Ele tentou se virar e me encarar, mas eu o segurei no lugar, e continuei com os lábios em sua orelha.
“Não, Edward. Só me assustei, não imaginei que você fosse reagir assim”. Fiquei feliz por ele não conseguir ver meu rosto, intensamente ruborizado. Ele pareceu relaxar, então.
“Você não tem idéia dos efeitos que está me causando, amor. Talvez mais tarde eu possa tentar lhe mostrar”. Apesar de não ver seu rosto eu podia sentir o meio-sorriso em sua voz. O sorriso que eu tanto amava. “Na verdade não vai ser tão tarde assim. Em breve será minha vez”.

Quando ele segurou meu rosto com as palmas das mãos frias e olhou para mim, o mundo voltou a girar. Antes tudo estava parado: o mundo, minha mente, meu corpo, meus nervos, meu coração. Tudo estava envolto em uma névoa de lassidão, parecia ter deixado de existir, e voltava ao foco lentamente. Meu corpo havia se preparado para aquilo antes, e se frustrado inúmeras vezes, quando ele interrompia as noites em que estávamos juntos nos momentos mais intensos. A ausência de frustração, a necessidade preenchida, o calor que ele me fizera sentir, apesar do frio de suas mãos... Naquele momento eu deixei o planeta, e fui parar em algum outro lugar onde não existia mais nada a não ser Edward. Como se isso fosse possível. Alguns dos romances descreviam o clímax como “a pequena morte”, principalmente os franceses. Acho que agora eu entendia o porquê; era mesmo uma experiência de quase morte, da qual eu voltei com relutância, com medo de que alguma coisa pudesse dar errado fora daquele ninho de sensações extasiantes.
Mas era ele quem me trazia de volta, com seu toque gélido, seus olhos cheios de paixão. Era ele quem me fazia esquecer a súbita timidez que vinha da minha falta de roupas. Que fez com que eu me sentisse uma pessoa completa. Olhei para ele e senti que meu coração poderia explodir com tantos sentimentos, eu não sabia na verdade como eu ainda conseguia viver ao lado dele. Era de se esperar que eu já tivesse morrido ou algo assim. Morrido de amor. Seria poético e adequado.
E então suas feições – sempre perfeitas, eternizadas naquele rosto adolescente dos meus sonhos – suas feições se modificaram. Eu vi seus lábios se entreabrirem como se ele estivesse com sede; os dentes afiados visíveis ao luar. Os olhos se nublaram por uns instantes e ele não estava exatamente ali; aquilo me assustou, pois eu nunca o vira antes daquela forma. Naquele momento ele era exatamente o predador perigoso contra o qual ele sempre me alertava, que sempre o preocupava. E então ele voltou, e se afastou de mim. Me senti solitária. Soltei o suspiro que estava prendendo, e o observei procurando alguma reação, alguma pista de como ele estava se sentindo. Ficou imóvel como uma estátua, olhando para o horizonte. Depois olhou para mim com uma expressão vaga e distante.
Eu precisava dizer algo, e foi o que meu coração sentia como verdade absoluta.
“Eu te amo, Edward”. Era verdade absoluta. “Não tenha medo, você não vai me machucar”. Para mim aquilo também era verdade. Eu apenas não podia acreditar que ele pudesse me ferir. E caso acontecesse... Descobri naquele momento que estava disposta a morrer se fosse por suas mãos, seus dentes, sua boca. Então eu seria completamente dele. Sei que isso era errado, insano, mas quantas coisas não haviam sido desde que nossa história começara...? Seria apenas o desfecho perfeito para o estranho amor entre um vampiro e uma humana.
Ele me olhou novamente, e só nós dois existíamos no mundo. Ele me olhou como se estivesse me descobrindo pela primeira vez; eu sentia como se fosse. Reconheci também em seu olhar aquele sentimento que eu temia ver desde o início: medo de me perder, dúvida. Ele estava hesitando.
“Bella”, ele começou a dizer, mas eu o silenciei com um beijo que nunca me permitira antes. Não havia palavras para dizer a ele tudo que eu queria, então cruzei dedos imaginários na minha mente e torci para que meu corpo conseguisse transmitir toda a confiança, toda a vontade que eu tinha, o quanto aquilo tudo estava sendo importante para mim. Ele, que sempre era tão mais rápido, mais forte, mais perceptivo, mais resistente... Saber que eu tinha o poder de quebrar seu controle nos deixava em pé de igualdade. O amor se tornava um campo de batalha no qual tínhamos forças parecidas. Naquele momento, em que eu o conduzia pela mão e o fazia sentir humano mais uma vez, nós éramos iguais. E talvez ele nunca pudesse entender como isso explicava minha insistência em que tivéssemos ao menos essa noite, antes de minha transformação. Era egoísta de minha parte, trazer sofrimento a ele, mas aquilo nos nivelava. E só assim eu podia sentir que tinha valor na vida de Edward Cullen. Só assim eu podia entrar naquele universo com ele feliz em ser apenas a mortal, frágil e indefesa Bella Swan, e sentir que tinha algo a oferecer àquele ser que não precisava de mais nada.
O beijo, que pretendia dizer tantas coisas, acabou se tornando uma tempestade de calor e frio, enquanto o desejo de me tornar completamente dele voltava com força redobrada, levando minhas mãos a deslizar por seu corpo invernal com uma ousadia que me deixou novamente corada. Aquilo me surpreendeu e me assustou, e desta vez, apesar do abandono pleno de Edward, que devorava meus lábios e língua com igual intensidade, eu me afastei, buscando ar.
Mas não era ar que eu queria. Eu queria certezas. Apenas o que eu não podia ter...
“Bella, amor, o que houve? Você está bem?” A preocupação que havia na voz dele, tão familiar, me doeu. Eu não queria estar fazendo isso desta forma, coagindo a pessoa que eu amava acima de mim mesma. Eu queria que ele se sentisse bem, sem culpa. Será que seria impossível?
Ficamos por um tempo buscando, no olhar do outro, respostas para perguntas silenciosas. Até que me afastei dele um pouco mais, nadando com braçadas lentas até mais perto da margem da praia. Até um ponto em que pudesse me sentar, sentindo as pequenas ondas mornas se chocarem contra minha pele. A lua subira no céu, eu não sabia mais que horas eram, o tempo se tornara uma coisa fluida, intangível. De certa forma eu queria e não queria que aquele momento durasse para sempre.
“Bella?” A ansiedade na voz de Edward se tornou mais perceptível. Como eu queria tirar aquela ansiedade dele para sempre! Não ser um objeto de preocupação eterna... Eu sabia que estava estragando o clima, mas não conseguia controlar os pensamentos, e mais uma vez, eu senti que estava prestes a arruinar tudo. Porque isso acontecia comigo? E justo nesse momento? Eu sempre estragava tudo.
Não consegui responder, porque não consegui nem mesmo aceitar que minha mente estivesse tendo uma crise de consciência naquele momento, depois de tudo que já acontecera, mas talvez fosse exatamente o momento certo, antes que algo mais acontecesse.
“Bella, o que houve?” De repente ele estava ao meu lado, guardando certa distância. “Fale comigo. Não está arrependida, está?” Os olhos agora transbordavam algo que beirava o pânico, e eu não pude mais pensar, ou me conter. Estendi as mãos para ele, que entrelaçou os dedos nos meus, me devorando com os olhos, tentando alcançar meus pensamentos, mas impotente.
De repente tudo que eu estava pensando veio à tona, não consegui mais segurar as palavras. Disse tudo que pensara nos últimos instantes. Sobre a preocupação constante. Sobre eu ser algo único na vida dele. Sobre o amor ser na verdade um campo de batalha. Ele ouviu tudo em silêncio, com um ar solene. E por fim, disse a ele que não queria nada que ele não quisesse inteiramente. Que se ele ainda tivesse alguma dúvida, qualquer uma, eu não o forçaria mais a continuar, independente de qualquer acordo prévio, porque eu sabia que ele estava passando por sofrimento demais para me dar aquele momento. E que eu não me importava em morrer em seus braços; o que me importava era saber o que quão horrível ele se sentiria se algo me acontecesse.
Quando terminei, houve um período de silêncio. Dei tempo a ele, que ficou imóvel, pensativo, enquanto eu me apercebia novamente da beleza do ambiente ao redor. Apesar da água morna, uma brisa fresca começou a soprar do norte, e o ar fresco contra minha pele molhada me causava arrepios. O cheiro da brisa era salgado, me lembrava um pouco a brisa da praia em La Push. Outra vez agradeci mentalmente por ter um cérebro torto e inacessível a Edward. La Push sempre me lembrava Jacob, e aquele momento era bem inconveniente. Mas a lembrança desta vez não trazia nada além de um pouco de paz, como ecos de uma onda distante que nos embala sem causar grandes distorções na superfície.
Senti a mão de Edward em meus cabelos molhados, afastando-os do meu rosto. Senti a ponta dos dedos frios traçarem as linhas do meu queixo, virando meu rosto para olhar para ele.
Sua expressão estava serena. Mais do que isso, seus olhos brilhavam com o reflexo do luar, e eu pude ler neles a extensão do seu amor. Só aquilo já me encheu de alegria. Ele poderia até desistir. Eu não me importaria mais. Só o que me importava era estar com ele.
“Bella”. Eu amava o jeito com que ele sussurrava meu nome. Ele encostou a testa na minha, e ambos ficamos de olhos fechados, mãos entrelaçadas. “Você tem idéia de como representa tudo na minha vida desde que entrou nela?”
“Bem, tenho certeza de que ela ficou um pouco mais movimentada”, eu respondi, tentando brincar.
“E você tem idéia de que eu quero que esta noite aconteça tanto quanto você? Ou até mais? O quanto eu quero que você seja completa, inteiramente minha?” Bem, isso eu não tinha certeza. Fiquei em silêncio. Ele prosseguiu.
“Acho que agora consigo entender você melhor. Entender porque isso é tão importante para você. Que não é só capricho ou inconseqüência. Porque” – ele me interrompeu antes que eu pudesse responder – “isso é perigoso, Bella. Eu preciso que você saiba disso, de toda a extensão do perigo que você está correndo. Você sabe disso, não sabe?”
Me lembrei do olhar vago dele, os dentes brilhando ao luar. Estremeci. Acenei com a cabeça, a boca subitamente seca.
“Então você entende os riscos envolvidos. E mesmo assim pretende ir até o fim?”
Acenei novamente. Edward conseguia ser formal mesmo nessas horas, os dois sem roupas, sentados no mar, em uma praia deserta de uma ilha tropical.
Ele suspirou. Mas depois sorriu, o meu sorriso torto; discreto, mas estava lá.
“Então acho que temos que tomar um banho, Sra. Cullen, e fazer isso direito. Temos uma cama nos esperando. Eu tenho quase certeza de que amanhã eu vou me arrepender, mas vou esquecer as preocupações por uma noite. É tudo que eu garanto no momento”
Foi minha vez de sorrir, um sorriso iluminado. “Tenho certeza que vai ser suficiente”. Ele então me tomou novamente nos braços e me carregou para dentro da casa, enquanto eu tremia de frio, amor e expectativa.


Escrita por annizinhah,em 29/12/2009